Canções e momentos: Bethânia estréia show conjunto com a cubana Omara Portuondo


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Havana, 10 mar (acn) A alegria a e a saudade de duas nações que parecem ser as duas caras de uma mesma moeda, foi a protagonista do show de Omara Portuondo & Maria Bethânia, lançado na passada sexta-feira no Rio e que promove o recente CD/DVD das duas cantoras.
Como era de esperar o Canecão, lotado por ‘deuses’ e ‘mortais’. Do outro lado, no palco, muito, mas muito talento devidamente dosado em vários segmentos.

O primeiro trouxe “O Cio da Terra”, “Cálix Bento” (do repertório de Milton Nascimento), “Havana-me” (de Joyce, que vale não confundir com o tema homônimo – “Habábame” do cubano Carlos Varela), “Só vendo que beleza”, “Tal Vez” (ambas do disco novo) e “Gente Humilde”.

Esta última, praticamente cantada a solo pela Portuondo, que antes alternou sua voz, praticamente sussurrante e melodiosa, com o vozeirão potente da Abelha Rainha que em seu segmento entoou peças já clássicas de seu repertório.

”O Ciúme” “lançou sua flecha preta”, para depois dar passo ao gostoso samba de “Bahia te espera”. Em meio de um sanduíche ‘melodramático’ (“Negue” e “Você não sabe”) – “O que será”, com a versão apresentada no LP “Pássaro da Manhã”, dos 70. Destaque especial para “Escandalosa”, de Djalma Esteves e Moacyr Silva, que nos 40 fez muito sucesso na voz de Emilinha Borba (uma das Rainhas do Rádio).

Da ‘nova’ safra: “Arrependimento”, “Caipira de Fato” e as “Palavras” pessimistas de Gonzaguinha que assegura que “cantar, nem sempre foi de alegria, com o tempo ruim, todo mundo também dá bom dia”. Encerrando o segmento e como querendo contrariar a sentença do herdeiro do Gonzagão, outro samba de Chico Buarque “Partido Alto”, riquíssimo em inflexões vocais e idéias.

Sozinha com voz suave, quase de um acalanto Omara transitou pelo universo musical de sua terra: “Dos Gardenias”, “Mil Congojas”, “Lacho / Drume Negrita”, “Guantanamera”, “Cubanacán” – famosa no Brasil, nem tanto em Cuba, por conta da novela homônima (só que com grafia diversa “Kubanacan”) e “Nana para un suspiro”.

Pilotados por Jaime Alem e Swami Jr., maestros respectivamente de Bethânia e Omara, (ambos ao violão) estiveram no palco com as duas damas: João Carlos Coutinho (piano), Jorge Helder (baixo), Cláudio Brito (percussão), Marcelo Costa (percussão) e o cubano Andres Coayo (percussão).

Segundo nossos colaboradores no Rio os arranjos privilegiam a beleza e as singularidades de cada uma das intérpretes. Seja nas canções mais intimistas ou naquelas em que o vigor se faz presente.

O cenário com araras e flores do designer Gringo Cárdia, com iluminação de Maneco Quinderé mostraram beleza sem-par em total sintonia com as raízes africanas que marcam os dois povos e que estiveram presentes até mesmo nos mais sutis movimentos da Portuondo, que apesar de não ser praticante, conhece de cor as tradições mágico-religiosas de seu povo, tão semelhantes ao Candomblé brasileiro. Araras e flores dão o tom colorido e alegre desse fantástico show, que une num espaço só as riquíssimas tradições musicais da ilha e o quase-continente.

No final, mais uma vez pintou no repertório a poesia quase cinematográfica de Gonzaga Jr. e o verbo amplo e cheio de sutilezas de Chico Buarque, quando juntas cantaram “Começaria tudo outra vez” e “O que será? (À flor da pele)”. Muitas pessoas da platéia se levantaram de suas cadeiras para em lágrimas acompanharem as divas e baterem palmas elas estes dois maiúsculos nomes da música latino-americana.

Em total serão seis apresentações no Rio de Janeiro e vem aí, a turnêque segue para São Paulo, Belo Horizonte, Maceió, Recife, Brasília, Aracaju, Salvador, Fortaleza, Curitiba e Porto Alegre. No estrangeiro o show será apresentado na Argentina e Chile.

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