Novela de Manoel Carlos é “ardilosa, superficial e sensacionalista”, diz crítica cubana


HAVANA, Cuba, 07 jan (ACN) Não é apenas no Brasil que os críticos estão descontentes com o desempenho do autor global Manoel Carlos, cuja novela Viver a vida, atualmente no ar, vegeta num profundo coma criativo. Também os jornalistas especializados de Cuba torcem o nariz para uma trama do muito badalado Maneco, cujas Páginas da vida terminam neste sábado e ainda bem.

Páginas da vida é das “mais ardilosas, superficiais e sensacionalistas [telenovelas] exibidas em Cuba”, diz o jornalista Yuris Nórido em seu artigo Páginas que se fecham (já era hora), publicado pelo site Cubasi.cu.

Nórido, especializado no tema de TV e mídia e assíduo de vários prestigiosos veículos de comunicação impressos e digitais, não deixa de reconhecer: o folhetim tem popularidade, ao ponto de dominar os ratings da ilha (também por falta de uma concorrência digna), mas acha que “está bem longe de ser o produto contundente que sua promoção prévia augurava”.

“Manoel Carlos tem passado, mais uma vez, gato por lebre. Tem confundido contenção com tédio, profundidade e valentia com demagogia e sensacionalismo”.

Para o jornalista, o amplo leque de temas polêmicos que apresenta a história não passa de um mecanismo para atrair a atenção do público, que vê traída essa expectativa em intermináveis cenas, com alguns bons diálogos, mas com uma tediosa e nada dissimulada falta de ação, tornando evidente que autor nem “se deu o trabalho de gerar peripécia” (tal como vem acontecendo hoje no horário nobre da Vênus Platinada).

Falta substância dramática e dá sensação de ter assistido a uma “representação vácua e caprichosa”, que longe de ser exemplo de “comedimento” na maioria dos casos resultou “irritante”. Ainda sobra idílio, numa trama que poderia ser resumida em 30-40 capítulos.

“A relação da doutora Helena com sua filha adotiva Clara, síndrome de Down, é digna de uma cartão de natal: toda luz, toda alegria. Muito poucas palavras sobre o verdadeiro reto de criar a uma menina com essas características, de contribuir a sua inserção social e sua realização pessoal, com toda a dedicação, o esforço, o sacrifício e (também, é óbvio) a satisfação que supõe.

A única sombra nesse processo -descontando o conflito inicial à hora de encontrar-lhe escola à menina- é a ameaça que a família biológica pretenda reclamar a custódia. Que a menina fosse Síndrome de Down contribuiu muito pouco à história (quiçá alguma quota de sensibilidade)”.

Além disso, a resenha, critica duramente o “caricato” conflito da menina racista, que afinal recebe um castigo excessivo, mas ‘exemplar’, ao ver morrer sua mãe em mãos de uns muito ‘oportunos’ bandidos e termina morando com uma negra. Muito “batido”, considera o analista.

“Por outro lado, há excessos de moralismo, particularmente no patriarcado do senhor Tide, que mais bem parece apostolado”, cuja única “ovelha negra” e a Carmem de Natália do Vale, tão histérica, quanto inconstante.

Nórido não esquece os altos valores de produção, mas acha monótono o excesso de perfeição e glamour nesses sets donde tudo era “novo e reluzente”, sem o menor ambiente de verdadeiro lar, mesmo sendo de classe alta.

Algumas atuações merecem destaque. O resto é apenas prova de bom ofício nuns casos (sem muito material para mostrar outra coisa) e de pura mediocridade em outros. “Mas há um desempenho mesmo admirável: o de Lília Cabral, imensa em sua personagem de Marta, a meio caminho entre o trágico e o desatinado. Particularmente notáveis resultam suas cenas de desequilíbrio emocional, conseguidas graças a uma gesticulação bem estudada”.

Há elogios para Marcos Caruso, no papel de Alex; Renata Sorrah como Teresa; e Danielle Winits, como Sandra...

Tarcísio Meira, Sônia Braga ou Viviane Pasmanter não tiveram a menor chance de mostrar sua “classe” e ficam “em meio tom”.

“Outros intérpretes mais do que provados, como a incombustível Regina Duarte, acentuam com cinzas e rotineiras caracterizações suas cinzas e rotineiras personagens”, assegura o especialista, que finaliza dizendo:

“Páginas da vida nos reafirma uma idéia: resulta bem mais autêntico e plausível um folhetim amarrado às sempiternas peripécias da paixão, do que um dramalhão com pretensões de drama realista”.

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